segunda-feira, 17 de agosto de 2015

lata vermelha

não sei dizer se é apenas o fim ou se é só o recomeço. apenas sei dizer que ouvi meras verdades sinceras que dói, sangra e rasga a pele que mostra o músculo, pulsando incessável.
naquele dia, aquela lata vermelha parecia ter sido pintada com meu próprio sangue. o lugar já não era mais o meu como de antes, havia um espaço entre as pernas e um desconforto. sentia falta de calor das mãos, mas eu suava frio naquele dia quente. 
antes de mais nada, quando cheguei no encontro marcado, senti falta de um sorriso, um abraço e um beijo (foi estranho). após algumas meias palavras veio um beijo molhado daqueles lábios que já me deixava abstinente, seguido de muito desejo. em seguida, as roupas ao chão, toque, desejo e mãos que me tirava o fôlego, mas também me tirava a atenção. olhei atentamente a cada detalhe daquele metro quadrado e aí veio a sensação de como eu já não pertencia mais àquele ambiente. notei que algumas coisas estavam fora de lugar, talvez eu tivesse fora do lugar naquele lugar, ou talvez eu não tivesse preparado para tantas mudanças e como de praxe, mudanças assustam. e foi aí que eu perdi toda estrutura física e emocional que havia em mim. o prazer foi inigualavelmente maravilhoso, foi como se eu tivesse com muita sede e tivesse tomado uma água com gás gelada, matou minha cede e hidratou minhas cordas vocais, mas eu saí de lá com um nó na garganta. e era como se mais nada daquilo fizesse sentido naquele momento. mas eu queria, eu tava disposto a pagar pra ver e tentar, mas ao mesmo tempo fui tomado por um medo que veio à tona, era um tiro no escuro.
e de volta àquela lata vermelha, eu me sentia inseguro, incompleto e incapaz de querer aceitar aquela situação. mas talvez eu esteja criando um pouco de maturidade e isso aos poucos, me traz aquela paz que eu tanto quis.

quinta-feira, 18 de junho de 2015

antes do fim

ela é de preto e eu quero vesti-la
ele quer mergulhar na noite calada de angústia e silêncio
ele não vê o começo nem o fim, nem a luz, apenas deseja que acabe
agora não sente os sentidos, não se motiva a prosseguir por cima e vai
e tenta
e cai
na queda é duro a levantar
e ao tentar levantar, o desespero toma conta
a boca amarga, as meias palavras, a visão turva
o preto escorre o rosto
o vermelho escorre os pulsos
o cinza permeia o céu
e a morte, o pôs seu véu

quarta-feira, 11 de fevereiro de 2015

sentido, sentido

tudo na vida é descartável
o copo é descartável
o ar é descartável
até o amor é descartável
não que não exista. não, existe.
mas quando não mais sustenta, deixa de ser amor, talvez torne dor, jogado à esquerda. pois não mais é o que se foi.
o cartão de crédito é descartável, tem vida útil.
e depois, todos nós seremos descartáveis
e depois?

quarta-feira, 26 de novembro de 2014

automático

copos plásticos, pessoas descartáveis
o medo e a ansiedade impedem a persistência
pessoas deixam de ser pessoas e se tornam robôs
com sentimentos alimentados por amor virtual
onde quer que eu vir, ritual
uma lista cheia, com páginas em branco, onde seria vermelho, brando
na busca cansável, efêmero, raso, alí desistiu
pela dor de quem um dia destruiu
o mundo está automático e ningém abriu os olhos
os dias apenas passam e as pessoas, descartáveis
como copos plásticos

terça-feira, 18 de novembro de 2014

loucura certa

acendi o último cigarro, cruzei a rua e te inventei perfeito num ínfimo imaginário
- quem, eu?
- sim, sem nem saber
soltei a fumaça, revirei os olhos e dancei recatado pra mim no meu íntimo
caligrafei no papel meus devaneios de um acervo que é só meu e ninguém mais
e sonhei naquele instante
desci em afago
dei o último trago
senti o amargo
e por fim, no chão caiu
construindo a despersonificação de alguém que agora eu era assim
mas parei e reparei
do consumo que se é consumido, drogas lícitas pra suprir a dor, carbono velho pra rotular
- mundo, eis aí sedentário na mesma rotação
- louco!
- loucura não compreendida, é criatividade jogada no ralo da pia
se digo o que sou e me refiro a mim, possa ser que eu não seja eu, mas sou o que tiver de ser quando aqui estou

quinta-feira, 7 de agosto de 2014

em primeira pessoa

dói mesmo, sangra.
acabei de ouvir isso e é bem assim que o meu coração sente. ao mesmo tempo uma sensação de impotência, de que foi tudo tão efêmero, apesar de longo.
eu prometi pra mim mesmo não mais acreditar no amor, não me dar de corpo e alma pra nenhum ser vivo, que pudesse ter a capacidade de ter os meus sinceros sentimentos nas mãos, que pudesse ter por inteiro o meu coração.
eu prometi pra mim mesmo ser um homem forte, prometi não acreditar num simples "eu te amo" ou "vai ser pra sempre", mas não adianta, a gente quando quer se sabotar, mesmo inconscientemente, consegue. e consegue de um jeito, que quando a gente se da conta, já passou, e é aí que que se pensa "fo-deu".
eu costumava querer voltar pra mudar as coisas que eu havia feito pra fugir dos sentimentos, pra querer ser forte e seguro. mas afinal, o que é ser forte? o que é ter essa segurança? pra quem eu tenho que provar essa fortaleza? alias, acho que na real é, pra que? um amor é um sentimento que não é alimentado sozinho, por mais que só eu ame, eu tive algum motivo pra me alimentar desse amor, agora, se eu não sou amado, isso não quer dizer necessariamente que eu não tenha sido suficiente pra alimentar um amor. eu acredito mesmo que amor é para os fortes. amor é para aqueles que tem coragem de dar a cara a tapa pra entregar sua vida pra alguém que te faz bem de alguma forma, mesmo sabendo que em algum momento você vai sofrer, pois sem sofrimento não ha amor. não existe a menor possibilidade de você sofrer por algo que você não ama, não faz sentido. é burrice querer se privar de um sentimento, seja lá qual for. se é sentimento, tá ali pra ser sentido, se você não sente nada, desculpe, amigo, você é um fraco. você é daquele tipo de pessoa que acha que pra ser feliz não precisa sofrer. você é vazio! você não vai ter nada de interessante pra se recordar, você é daquele tipo de pessoa que tem uma vida supérflua. e aí, mais cedo ou mais tarde, você vai olhar pra dentro de si e não vai ter nada. vai ter deixado algumas outras pessoas terem passado pela sua vida por um medo banal, você vai ter o pouco que sobrou.
olha, hoje tá doendo pra caralho. mas passa, como tudo passa, como um bloco de carnaval na rua, que quando você menos espera, passou. e eu quero, eu choro, eu sangro. foi tudo tão bom, mas não deu, não foi suficiente pra suportar, não foi forte pra lutar, não foi crédulo pra tentar, não eu. o destino não prevê esse tipo de coisa, e não posso por culpa nele, apenas tinha de ser assim e cabe a mim aceitar, pois não posso lutar sozinho, em guerra de dois onde só um luta, é como quando um não quer.
eu não quero por a culpa em ninguém, alias, eu não quero por culpa, não há culpa, não á o que ter culpa, é apenas um fato, não posso me esconder por trás de quem não mais quis. eu só quero ficar bem, eu só preciso ser eu, eu só preciso que me amem como sou, que o amor seja forte ao ponto de passar por cima dos meus defeitos, assim como eu amo, assim como eu acredito. não é utopia, não é fantasia, é amor.
eu só queria dizer o que sinto, só queria dizer como estou.
em primeira pessoa, eis-me aqui.

segunda-feira, 26 de maio de 2014

através de ti

Não sabe ao certo se foi sua escolha ou se foi escolhido.
Depois de 30 passos à frente se viu num conflito iminente, torpe e em um instante o remédio pode curar a sua dor e até o bel prazer relevante que nem mesmo soube o quanto.
Foi álibi de si próprio durante todo o instante e por confiança se entregou, abriu os braços e se jogou, quis mesmo a ascensão do risco, nem assim foi vil.
Escravo das frustrações e de suas emoções, inerte ao tratamento, momento descontento.
Sentiu o peso da necessidade em suas costas, quis fugir, quis pular, quis beber pra chegar ao fim.
Esteve tão perto da morte e nem pensou ser tão forte pra dizer não ao seu querer mais intenso.
Acordado na madrugada com seus fantasmas, quis um gole, mas precisava ser firme e impor sua decisão sobre seus sentidos ou instintos.
Agora chora, grita, implora, sente e luta, luta, luta!
Com o
nó contido em sua garganta, venceu a dor.
Talvez dúvidas, talvez medo, agora está em suas mãos e sente que a sua metade é morte e a outra é bem maior que a sorte.
Acaba que por fim, sente a mesma necessidade por lembrar de como foi, se engana pra si quando não percebe e mantém a caminhar pela busca topo.
Ele hoje troca a fissura pela brisa da rua e preenche sua alma sem nenhum vão prazer alado e vence um cão por dia cada vez que seus olhos abrem.